Participação no 15º Congresso da AECOC

O futuro do mercado dos Bens Tecnológicos de Consumo. 

Há algumas semanas, tive a oportunidade de apresentar uma palestra no 15º Congresso da AECOC sobre BTC - Bens Tecnológicos de Consumo. Foi um dia extraordinário, em que pudemos partilhar experiências e perspectivas com diferentes oradores, fabricantes e retalhistas do setor. E onde foi possível evidenciar a diversidade de visões e posicionamentos existentes. 

Após uma sessão desta natureza, é essencial refletir sobre os temas que mais nos impactaram. Devo reconhecer que o mais marcante foi a confirmação de que estamos perante uma mudança profunda no mercado. Mudança esta que nos obrigará a redefinir radicalmente as nossas posições, e que esta revolução será muito mais rápida do que a maioria imagina. 

Por outro lado, é surpreendente constatar que o setor ainda não está realmente consciente disso. Ainda se percebe que, para muitos, a inteligência digital está focada apenas em melhorar a eficiência. Apesar de serem necessários, os processos eficientes baseados na integração de ferramentas digitais padrão não só nos colocam ao nível dos nossos concorrentes, mas também representam um salto qualitativo com retorno a curto prazo. 

O verdadeiro potencial reside na integração estratégica da inteligência digital, desenvolvida à medida de cada empresa. Essa integração é o que definirá o nosso crescimento futuro e a sustentabilidade do negócio. Alguns oradores partilharam casos concretos de clientes que no setor, e com estruturas muito ágeis, se concentraram na comercialização de um único produto num novo quadro competitivo. Através de uma visão digital e da aposta em modelos de e-commerce omnipresentes, construíram negócios altamente rentáveis, com volumes, posicionamentos e margens muito relevantes. 

O mais surpreendente é que essas abordagens contrastam com as preocupações indicadas pelos participantes através do questionário promovido pela organização. Preocupações essas ainda centradas em aspetos tradicionais como o preço, segmentação, comunicação em meios clássicos ou inovação enquanto argumento comercial – sem reconhecer que os modelos de negócio, estratégias comerciais e formatos de comunicação estão em plena transformação. Para além disso, existem outros fatores críticos de sucesso a desenvolver se queremos sobreviver, e estes fatores já estão muito presentes para os consumidores. 

• Desenvolvimento de ofertas baseadas em serviços onde o produto é parte de um modelo de negócio que garante fidelização e recorrência e redefine a relação com o consumidor.
• Gestão da confiança com o cliente, baseada em novos sistemas de recomendação, menos dependentes de atributos históricos como a marca.  
• Propostas adaptadas ao consumidor enquanto indivíduo, e não baseadas em segmentos genéricos que condicionam a nossa relação com o cliente.
• Acesso livre a mercados globais, com estratégias de e-commerce que permitem a empresas pequenas operar como multinacionais.
• Novos formatos de gestão e recomendação de compra que anularão as estratégias de marcas e canais, tornando-os mais transparentes e oferecendo novos serviços.
• Desenvolvimento de novos modelos de colaboração e parcerias integrados em toda a cadeia de valor, desde a conceção até à reciclagem. 
• Estratégias de comunicação baseadas em posicionamentos omnipresentes e modelos bidirecionais de interação.
• Estratégias específicas por categoria de produto – porque não se vende uma máquina de lavar roupa como se vende um tablet.

Todos estes fatores, e muitos outros em constante evolução, representam um mercado em plena transformação que irá explorar as oportunidades que nos são oferecidas, criando e oferecendo um novo contexto digitalizado. É evidente que a necessidade de implementar esta nova visão dos nossos negócios requer um novo modelo de raciocínio, onde os modelos estratégicos e o desenvolvimento e implementação de soluções digitais estão totalmente integrados. A verdadeira questão já não é "qual o caminho a seguir", mas sim: estamos preparados para o percorrer?  

Dada a velocidade com que a mudança está a ocorrer, a inação nunca será mais negativa. Serão muitas as organizações que desaparecerão "branqueadas" por novas iniciativas que estão a ser desenvolvidas num novo formato adaptado à realidade atual.